Inclusão Social

Este Blog prove um espaço de informações, pesquisa e interação com pesquisadores, profissionais, estudantes, familiares e portadores de deficiência que tenham interesse nos assuntos referentes à Nova Era da Inclusão Social.

Sunday, October 29, 2006

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO V

AUTISMO INFANTIL

A classificação do Autismo, bem como seu diagnóstico é muito complexa e passível de controvérsias, uma vez que reúne uma gama variada de sintomas e deficiências associadas.

Leo Kanner, em 1943 descreveu pela primeira vez o quadro de Autismo Infantil. Essas crianças apresentavam alheamento aos estímulos do meio, tinham dificuldades em se relacionar com pessoas, inclusive familiares, buscavam o isolamento e prendiam-se à detalhes dos objetos. Estes apresentavam problemas afetivos e cognitivos.

A maior ocorrência deste distúrbio é em meninos com uma proporção de 5 para cada menina. Não é uma deficiência rara, tendo uma maior incidência nos Estados Unidos.

Embora, posteriormente, tenham aparecido várias abordagens teóricas para explicar o Autismo, a visão atual chegou a um consenso, quando descritas pelos manuais internacionais de classificação de doenças o CID 10 e o DSM IV. Estes descrevem sinais e sintomas comportamentais que dão uma visão compreensiva do quadro e classificam o Autismo Infantil dentro dos Distúrbios Globais (ou invasivos) do Desenvolvimento (DGD), do quadro de psicose infantil:

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DO AUTISMO (DSM-IV)

A. Um total de seis (ou mais) itens de (1), (2), e (3), com pelo menos dois de (1), e um de cada de (2) e (3).
1. Marcante lesão na interação social, manifestada por pelo menos dois dos seguintes itens:
a. destacada diminuição no uso de comportamentos não-verbais múltiplos, tais como contato ocular, expressão facial, postura corporal e gestos para lidar com a interação social.
b. dificuldade em desenvolver relações de companheirismo apropriadas para o nível de comportamento.
c. falta de procura espontânea em dividir satisfações, interesses ou realizações com outras pessoas, por exemplo: dificuldades em mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse.
d. ausência de reciprocidade social ou emocional.
2. Marcante lesão na comunicação, manifestada por pelo menos um dos seguintes itens:
a. atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral, sem ocorrência de tentativas de compensação através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas.
b. em indivíduos com fala normal, destacada diminuição da habilidade de iniciar ou manter uma conversa com outras pessoas.
c. ausência de ações variadas, espontâneas e imaginárias ou ações de imitação social apropriadas para o nível de desenvolvimento.
3. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes itens:
a. obsessão por um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse que seja anormal tanto em intensidade quanto em foco.
b. fidelidade aparentemente inflexível a rotinas ou rituais não funcionais específico
c. hábitos motores estereotipados e repetitivos, por exemplo: agitação ou torção das mãos ou dedos, ou movimentos corporais complexos.
d. obsessão por partes de objetos.
B. Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade:
1. interação social. 2. linguagem usada na comunicação social. 3. ação simbólica ou imaginária.

O diagnóstico diferencial dos quadros autísticos inclui outros distúrbios globais do desenvolvimento, como a síndrome de Asperger, a síndrome de Rett, transtornos desintegrativos e os quadros não especificados, ou seja, quando estes não fecham um diagnóstico específico.
O Autismo Infantil geralmente vem apoiado em alguma síndrome cromossômica, ou em alguma alteração neuroanatômica, que provoca deficiência mental. Já a Síndrome de Asperger, embora a criança apresente comportamentos autísticos, são inteligentes e seu prognóstico é mais favorável. A Síndrome de Rett desenvolvida no sexo feminino, apresenta um percurso inicial de desenvolvimento aparentemente normal, ocorre a perda de funções já adquiridas como segurar objetos, a fala e a marcha, param de fazer contato ocular e entram num espectro autístico por um tempo, podendo retornar o contato após 2 ou 3 anos, mas as funções motoras ficam prejudicadas.
Bons pediatras e bons neurologistas são capazes de identificar o Autismo em criança com meses de idade. Estas preferem o berço ao colo, recusam o peito, não fazem contato olho a olho e não esboçam o sorriso social e não estabelece troca afetiva. O que acontece, é que esta síndrome é percebida, geralmente, no momento em que a criança começa a desenvolver a fala e a comunicação. Quando autista, esse desenvolvimento não aparece ( por volta de 24 meses) e daí os pais começam a perceber que há algo de errado com o desenvolvimento do seu filho.
Muitos pais relutam em aceitar o diagnóstico e fica trocando de profissional com a esperança de encontrarem outro diagnóstico, o que retarda o tratamento da criança.

O que mais chama a atenção no Autismo Infantil é a estranheza que os pais, professores e profissionais sentem ao lidar com esta criança. Não é o seu atraso no desenvolvimento que ressalta, mas sim os comportamentos bizarros, estranhos que a criança apresenta ao se relacionar com pessoas e objetos. Geralmente não entende comandos verbais, regras e o contexto proposto.
Embora toda pessoa deficiente apresente problemas emocionais, o problema de eixo do Autismo é cognitivo. O autista apresenta outro código cognitivo de pensamento e aprendizagem, o que dificulta muito sua inclusão escolar. Hoje, a metodologia TEACCH é o instrumento pedagógico que tem dado mais resultados tanto na aprendizagem das atividades de rotina diária, como nas atividades escolares.
Terapias medicamentosas podem minimizar sintomas que interferem no seu desenvolvimento psico-social Pelo tratamento multidisciplinar de neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos e educadores, tem-se obtido bons resultados, um melhor prognóstico e um futuro mais otimista para estas crianças, embora seja a deficiência que apresente maior resistência, maior dificuldade e complexidade para se realizar o processo de inclusão escolar
Por Simone Alarcon Oncalla. Psicóloga, Psicopedagoga e Mestranda em Psicologia pela Universidade São Marcos.

A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL

Dependendo do potencial cognitivo, ou seja, da capacidade para aprender, uma criança com paralisia cerebral ( PC) pode estar apta a freqüentar a escola regular em classe compatível com sua faixa etária.
As crianças com tetraplegia espástica geralmente apresentam envolvimento cognitivo grave. Crianças com outros tipos de PC apresentam deficiência cognitiva leve ou moderada e podem freqüentar o ensino especial. No Brasil, existem Centros de Educação Especial administrados pelo governo, por instituições filantrópicas ou pertencentes à rede privada, que dispõem de atendimento a estas crianças.
Algumas crianças, apesar de mostrarem capacidade para aprender, necessitam ensino especial devido a distúrbios sensoriais. Algumas das instituições citadas possuem modalidades de atendimento especializado para crianças com deficiência visual ou auditiva.
De acordo com a constituição brasileira, tanto as escolas públicas quanto as particulares têm obrigação de aceitar a matrícula de qualquer aluno com deficiência física desde que ele tenha capacidade para acompanhar o ensino regular. Quando o envolvimento motor é importante, a escola deve considerar e respeitar limitações como escrita lenta ou dificuldade para a fala. Nessas situações, a escola deve encontrar estratégias que possam viabilizar a aprendizagem. Qualquer limitação motora pode ser minimizada através de recursos didáticos compatibilizando aprendizagem e dificuldade de movimento, ou de meios alternativos oferecidos pela engenharia de reabilitação.
Aspectos Psicossociais

Em uma criança com deficiência física, a exploração e a manipulação dos objetos, a locomoção, e a interação com a família não podem acontecer normalmente. Isto faz com que o desenvolvimento da criança com certos tipos de PC ocorra de uma maneira diferente. A impossibilidade para correr, jogar bola, e andar de bicicleta vai aos poucos dando à criança a noção de "ser diferente". Na idade escolar, muitas delas já estão conscientes de suas dificuldades e poderão necessitar de ajuda para melhor lidarem com os sentimentos de tristeza ou as diversas perdas ocasionadas pela condição de "ser diferente".
Uma criança com PC apresenta necessidades específicas em cada etapa do seu desenvolvimento. Por exemplo, durante os seis primeiros meses de vida, predominam as necessidades com relação aos cuidados médicos - avaliações clínicas, realização de exames complementares, orientações sobre a patologia, aconselhamento e apoio aos pais. Durante a primeira infância, um dos principais objetivos do acompanhamento passa a ser a estimulação do desenvolvimento neuropsicomotor. À medida que a criança cresce, vão surgindo as necessidades relacionadas com a inserção social, como maior grau de independência, escolarização, orientação vocacional e reforço do suporte psicológico à criança e à família nos momentos críticos.
Em determinadas etapas do desenvolvimento, além dos programas de reabilitação e do acompanhamento médico em esquema ambulatorial, muitas crianças necessitam repetidas hospitalizações ou intervenções cirúrgicas. A rede de apoio social formal (serviços e recursos da comunidade, incluindo as relações com profissionais de saúde) e informal (relações com amigos e familiares) é importante no que se refere ao processo de adaptação dos familiares à deficiência. No que diz respeito à rede de apoio formal, ela nem sempre é eficaz. É comum haver um grande número de profissionais, de diferentes serviços, envolvidos no acompanhamento da criança. Estes profissionais, muitas vezes, apresentam condutas divergentes entre si, acarretando insegurança aos pais quanto à escolha e tomada de decisões com relação ao tipo de cuidados e tratamento da criança. Além disso, a inexistência ou precariedade de recursos de tratamento para determinados problemas representa mais uma fonte de estresse que interfere com o processo de adaptação da família à deficiência.
O profissional que assiste a criança tem um papel importante na mediação do estresse familiar. Os pais necessitam de profissionais experientes que parem para ouvir as suas dúvidas e preocupações, passem as informações com sensibilidade e respeito e tenham consciência de suas limitações.
A melhora da criança com PC é lenta e demanda um constante equilíbrio dos familiares e dos profissionais, entre o que se quer e o que é possível, e cabe à equipe que trata da criança uma atitude de apoio aos familiares com o objetivo de fortalecê-los para que possam realizar os cuidados adequados e enfrentar as dificuldades que acompanham o processo de ajustamento à deficiência. Este processo torna-se mais fácil quando pais e profissionais de saúde trabalham em busca dos mesmos objetivos.
SARAH