Inclusão Social

Este Blog prove um espaço de informações, pesquisa e interação com pesquisadores, profissionais, estudantes, familiares e portadores de deficiência que tenham interesse nos assuntos referentes à Nova Era da Inclusão Social.

Sunday, October 01, 2006

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO V

Profa. Dra. Lucia Ghiringhello
Síntese da aula de 18.09.06

ARANHA, Maria Salete F. A inclusão social da criança especial. Texto submetido para publicação na revista INTEGRAÇÃO, da SEESP/MEC.
Capítulo 6 – As estrebarias da Augias – INTEGRAÇÃO SOCIAL: “lato sensu”: metas e armadilhas de: AMARAL, Lígia A. Conhecendo a deficiência em companhia de Hércules, São Paulo: Robe editorial, 1995.

Primeiramente, foi comentada a reportagem da revista Época desta semana que trouxe na capa a garota com síndrome de down que atua na novela Páginas da Vida. Foi sugerido que os alunos lessem a reportagem da revista ou entrassem no site da revista Época:
www.epoca.com.br

A seguir, houve uma dinâmica,, na qual os alunos, em grupos de até quatro pessoas, formularam questões e/ou problematizaram aspectos dos textos lidos e depois trocaram as questões para uma discussão sobre os aspectos levantados.

Na 2a. parte da aula, foram discutidos aspectos de relevância dos textos, como segue:

TEXTO DA ARANHA:
A autora faz uma retrospectiva histórica procurando situar a inclusão desde a Antigüidade e traz dentro de um contexto histórico e social os três paradigmas:

PARADIGMA DA INSTITUCIONALIZAÇÃO:
Caracterizou-se pela retirada das pessoas com deficiência de suas comunidades de origem e pela manutenção delas em instituições residenciais segregadas ou escolas especiais, freqüentemente situadas em localidades distantes de suas famílias. Viver bem, separado, com ótimos recursos mas dentro de um espaço separado – adaptados a um determinado espaço.

· Está por trás dessa idéia, uma abordagem qualitativa da diferença ( que pessoas comuns e deficientes não têm nada em comum.
· Um modelo biológico de deficiência – a pessoa tem uma deficiência que não vai mudar nunca então nada será investido em mudanças na pessoa – deficiência irreversível.
· Idéia de desenvolvimento pronto (fases estão previstas de uma criança deficiente) como uma sementinha (as limitações e deficiências dependem dela), então deve-se apresentar num lugar que ela se sinta bem.
· Idéia de homogeneidade (segregação): separa a pessoa deficiente para ensinar melhor.

Esse paradigma se manteve sem contestação por vários séculos.

Goffman, 1962 - cria uma idéia de que as pessoas com deficiência levam uma vida enclausurada e formalmente administrada, afastados da sociedade, constituindo um estilo de vida difícil de ser revertido. Acredita que esse paradigma não favorece a recuperação das pessoas para a vida em sociedade.
Além de estudos mais antigos indicarem conseqüências negativas da institucionalização, Heber (1964) descreveu distúrbios de personalidade em indivíduos com deficiência mental institucionalizados, como: baixa auto-estima, ausência de motivação para a vida, desamparo aprendido e distúrbios sexuais.

Começa um movimento para a DESINSTITUCIONALIZAÇÃO – baseado na ideologia da normalização: os esforços para tirar as pessoas de instituições, colocando-as num sistema , o mais próximo possível, do que fosse o estilo de vida normal numa comunidade.

Braddock, 1977 – maior percentual de pessoas na curva da normalidade e uma condição de desvio representada por pequenos percentuais de pessoas na mesma curva.

PARADIGMA DE SERVIÇOS (NORMALIZAÇÃO):
Ajudar pessoas com deficiência a obter uma existência tão próxima ao normal possível, a elas disponibilizando padrões e condições de vida cotidiana próxima às normas e padrões da sociedade.
Pretendia-se a INTEGRAÇÃO da pessoa com deficiência na sociedade.
Ideologia da normalização: necessidade de introduzir a pessoa com deficiência na sociedade, ajudando-a a adquirir as condições e os padrões da vida cotidiana o mais próximo do normal (estatístico), quanto possível.
Esse movimento favorecia:
- tanto o afastamento da pessoa das instituições,
- como a provisão de programas comunitários planejados para oferecer serviços que se mostrassem necessários para atender a suas necessidades.

Essas instituições foram planejadas e delineadas para promover a responsabilidade e enfatizar um grau significativo de auto-suficiência da pessoa com deficiência, através do trabalho ou do preparo para o trabalho, envolvendo treinamento e educação especiais, vistos como instrumento fundamental para a promoção da normalização do indivíduo.
É uma meta a longo prazo: passar por uma série de atendimentos até ser considerado apto.
Criou-se o conceito da INTEGRAÇÃO – fundamentado na ideologia da normalização.
Localizar NO SUJEITO o alvo da mudança. O sujeito deveria ser modificado para poder se aproximar do “normal” o mais possível. A pessoa tem perda de alguma coisa e precisa mudar.
O paradigma de Serviços iniciado por volta da década de 60, logo começou a enfrentar críticas provenientes da academia científica e das próprias pessoas com deficiência:
- dificuldades encontradas no processo de busca de “normalização” da pessoa com deficiência: muitos ainda mostravam que dificilmente se pode esperar que alcance uma aparência e um funcionamento semelhante aos não deficientes, devido às próprias características do tipo de deficiência e de seu grau de comprometimento;
- à expectativa de que a pessoa com deficiência se assemelhasse ao não deficiente, como se fosse possível ao homem o “ser igual” e como se ser diferente fosse razão para decretar a menor valia enquanto ser humano e ser social.

PARADIGMA DO SUPORTE:
Surge na década de 1990 aproximadamente. Fundamentado no princípio da diversidade, tem se caracterizado pelo pressuposto de que a pessoa com deficiência, como qualquer outra, tem direito à convivência não segregada e ao acesso aos recursos disponíveis aos demais cidadãos.
Disponibilização de suportes, instrumentos que viabilizam a garantia de que a pessoa com deficiência possa acessar todo e qualquer recurso da comunidade. Os suportes podem ser de diferentes tipos (suporte social, econômico, físico, instrumental) e têm como função favorecer o que se passou a denominar INCLUSÃO SOCIAL.
A idéia da inserção social é imediata: desde que a pessoa nasce deve estar no convívio comum.
INCLUSÃO SOCIAL: processo de garantia do acesso de todos a todas as instâncias da vida em sociedade, independente de terem ou não uma deficiência, do tipo de deficiência e de seu grau de comprometimento.

A INCLUSÃO parte do mesmo pressuposto da INTEGRAÇÃO, que é o direito da pessoa com deficiência ter igualdade de acesso ao espaço comum da vida em sociedade. Diferem no sentido de que a idéia de INTEGRAÇÃO pressupõe o investimento principal na promoção de mudanças do indivíduo, na direção de sua normalização, no “aprontamento” do sujeito para a vida na comunidade. A INCLUSÃO prevê intervenções decisivas e incisivas, em ambos os lados: no processo de desenvolvimento do sujeito e no processo de reajuste da realidade social, ou seja, além de ser investir no processo de desenvolvimento do indivíduo, busca-se a criação imediata de condições que garantam o acesso e participação da pessoa na vida comunitária, através da provisão de suportes físicos, psicológicos, sociais e instrumentais.

A INCLUSÃO SOCIAL não é processo que diga respeito somente à pessoa com deficiência, mas sim a todos os cidadãos. Não haverá inclusão da pessoa com deficiência enquanto a sociedade não for realmente democrática, onde todos possam igualmente se manifestar nas diferentes instâncias do debate de idéias e de tomada de decisões da sociedade, tendo disponível o suporte que for necessário para viabilizar essa participação.

TEXTO DA AMARAL:

A autora discute o termo “integração”, que pode significar entre outros sinônimos o de “tornar inteiro”. A sua preocupação é que este termo pode suscitar a idéia de tornar o deficiente “igual” ao grupo de referência. Também acredita na possibilidade desse mesmo termo ser decodificado e poder trazer a idéia de “tornar inteiro” em relação a si mesmo e não em relação a parâmetros externos. De qualquer forma, ela pretende deixar claro ao leitor que, neste contexto, a sua reflexão será sobre a integração como oposição à segregação.
Afirma que barreiras podem ser interpostas entre a pessoa com deficiência e esses diferentes mundos concretizados na escola, trabalho, cultura, lazer, nas relações afetivas, no exercício da sexualidade.
Traz a integração vista sob quatro diferentes níveis, a saber:
Físico:
Estar “ao lado de” não propicia real e efetiva integração, poderá fortalecer o estigma e justificar uma segregação. O olhar, por exemplo, num elevador a um cadeirante, a uma pessoa com bengala, pode sugerir um comportamento “diferente”. É interessante e viável colocar a pessoa com deficiência no circuito social mas não o é suficiente.

Funcional:
Pessoas devem ter uma atividade em comum, embora se utilizem de estratégias e equipamentos diferentes ou desenvolvendo essas atividades em ritmos, formas e níveis de precisão também diferentes.Ex.: ir ao shopping pra assistir a um filme – paraplégico utiliza-se de elevador enquanto que os caminhantes utilizam-se das escadas. Estudante cego gravando as aulas em braile. A comunicação não está necessariamente presente nesse nível de convivência.

Social (stricto sensu):
Redução da distência entre as partes envolvidas. Pressupõe a redução de eventual sentimento de isolamento por parte da pessoa com deficiência. Sair da verticalidade para a horizontalidade: ombro a ombro (reciprocidade).

Social (lato sensu):
Só se dará através de uma vontade política, através de sistemas da comunidade. Construídos através de diferentes esferas públicas e privadas (legislação, investimentos econômicos, eliminação de barreiras arquitetônicas, reciclagem profissional).